Aqueles que, por ventura, já assistiram a “O Discurso do Rei”, ganhador do Oscar de Melhor Filme em 2011, provavelmente já estão familiarizados com a ideia de Media Training. Para os que ainda não assistiram, o longa conta a história da amizade desenvolvida entre o príncipe Albert, que ascenderia ao trono como rei George VI, e Lionel Logue, o fonoaudiólogo que utiliza diferentes e, por vezes, inusitadas técnicas para ajudar o príncipe a superar sua gagueira.
A narrativa é emocionante, mas, deixando de lado a questão do entretenimento, o mais importante é perceber que Logue dá uma verdadeira aula de como falar, passar confiança, ter a postura ideal e escolher as palavras sabiamente na hora de fazer um discurso. Em outras palavras, ele emprega de maneira bem elucidativa o conceito de Media Training, que nada mais é do que um treinamento para aprender a falar e aperfeiçoar o relacionamento de porta-vozes das instituições com os jornalistas e a mídia como um todo – seja para conceder entrevistas, discursar em eventos ou simplesmente fazer networking.
Durante minha formação, fui bastante inspirada pela doutora e mestre em Comunicação e Semiótica, Denise Paiero. Grande defensora do Media Training – e não é para menos –, ela alerta que, em geral, empresários, executivos e médicos não têm uma formação voltada para a comunicação com a mídia e, por isso, podem não compreender o que é imprensa e quais as suas demandas, não ter traquejo para lidar com jornalistas e correr o risco de falar algo que pode ser mal interpretado.
Vale para a minha instituição de saúde?
Além de gerar muito interesse na população, principalmente porque boa parte das pessoas desconhece questões intrínsecas do setor, a saúde gera muitas demandas por parte da imprensa, que deseja saber e noticiar os principais acontecimentos. Nesse sentido, vale ressaltar não somente a velocidade com que as informações correm atualmente, como também um novo agente nesse processo: as Fake News.
Como vimos nos últimos anos, as notícias falsas têm sido um dos principais motivos de crise. De acordo com Denise, por serem atrativas, tratarem de assuntos de interesse da comunidade e circularem rapidamente pela internet, as notícias falsas são extremamente difíceis de conter. E um bom exemplo de como elas têm afetado o setor da saúde é o caso das vacinas, em que informações falsas circularam de forma assustadora e trouxeram consequências para a imunização em todo o mundo.
Dessa forma, é importante estar presente em qualquer situação para transmitir da melhor forma as notícias positivas, saber responder bem às negativas e não somente saber lidar com as Fake News, mas também trazer informações verdadeiras que façam sentido para o público. E vale destacar que, na saúde, as instituições estão constantemente expostas a crises de imagem, até porque lidamos com a vida das pessoas.
Se você chegou até aqui, certamente está convencido da importância de se preparar para falar com a imprensa. Um bom treinamento, porém, deve ter algumas etapas fundamentais, que explico abaixo.
Media training: passo a passo
O treinamento normalmente é dividido em três partes e pode ser ministrado por um jornalista ou outro profissional capacitado em apenas um dia ou mais, dependendo do nível de complexidade e de aprofundamento das habilidades. Em um primeiro momento, são abordadas questões mais teóricas, que envolvem apresentar características de diferentes veículos (jornais, revistas, televisão, entre outros) e as novas demandas desse mercado. Como se comportar em uma entrevista? Que tipo de roupa utilizar? Como escolher as melhores palavras para evitar jargões? Como manter um bom relacionamento com o jornalista? Tudo isso deve ser abordado.
Na segunda etapa, os porta-vozes passam por uma simulação de entrevista, que geralmente é gravada, para que possam praticar o que aprenderam na primeira fase. Por fim, acontece o feedback do que foi apresentado na segunda fase. Nesse momento, o jornalista ou profissional que está ministrando o curso analisa criticamente a entrevista simulada e tece comentários sobre o desempenho dos executivos, listando todos os pontos fortes e fracos do entrevistado. Dessa forma, o porta-voz pode trabalhar em certas habilidades e aperfeiçoar outras.
O formato, claro, precisa ser desenhado para atender às necessidades de cada instituição e de cada porta-voz. Uma coisa, porém, é certa: as instituições e profissionais de saúde precisam assumir o seu papel no mar de informações e desinformação do qual fazemos parte hoje. E, para isso, é preciso estar preparado.
Texto escrito por Roberta Tinti