Uma pesquisa com 1.456 profissionais da saúde pública no Brasil foi realizada pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB FGV-EAESP), entre os dias 15 de abril e 1º de maio de 2020. O objetivo foi compreender qual era a percepção desses profissionais sobre os impactos da crise em seu trabalho, bem-estar e modo de agir no dia a dia[1].
O levantamento resultou em recomendações para os governos federal, estaduais e municipais sobre como melhorar o suporte a médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde (ACS) durante a pandemia do novo coronavírus. Das 11 ações, cinco estão diretamente relacionadas a comunicação e marketing, demonstrando que profissionais de comunicação estratégica devem estar inseridos no planejamento para o enfrentamento da crise.
Números do medo e falta de segurança
Os resultados dessa pesquisa lançam um alerta aos gestores:
- 88,7% dos respondentes têm medo de contrair a COVID-19. Agentes comunitários de saúde e de combate às endemias (ACE) são os que mais temem (91,5% dos respondentes), seguidos por profissionais de enfermagem (84,3%) e médicos (77,68%);
- O temor é maior entre os que trabalham nas regiões Norte (92,3%) e Nordeste do País (90,6%).
O medo pode estar relacionado ao fato de que percebem a possibilidade de contágio como muito próxima e de que não se sentem preparados para lidar com a ameaça, conforme demonstram os dados a seguir:
- 55,1% dos entrevistados já tiveram algum colega ou familiar que testou positivo ou que foi diagnosticado com suspeita da doença;
- Apenas 32,9% afirmaram ter recebido EPIs adequados. Entre os médicos, esse número sobe para 65,28%;
- 71,82% dizem não sentir suporte de seus superiores;
- Pouco mais da metade (55,56%) receberam orientações de suas chefias sobre como atuar durante a crise, e menos da metade dos respondentes de todas as categorias profissionais pesquisadas havia participado de treinamento sobre como lidar com a nova situação.
Plano de ação
A análise do conjunto de informações obtidas resultou na agenda a seguir. As recomendações foram extraídas na íntegra do relatório, reorganizadas apenas para que as cinco relacionadas à comunicação ficassem agrupadas ao final da lista.
- Distribuição de EPIs de qualidade para todos os profissionais dos diferentes níveis de atenção;
- Distribuição massiva de testes rápidos tanto para monitoramento da população como, acima de tudo, dos profissionais de saúde;
- Reorganização dos serviços da atenção primária, direcionando-os de forma clara para atuarem durante a pandemia com a devida e necessária proteção;
- Atenção especial aos ACS e ACE, tanto em relação às funções que podem assumir na pandemia, como nos cuidados que devem receber em termos de informações, treinamento e equipamentos. Estes são atualmente os profissionais com maior percepção de vulnerabilidade, segundo os dados da pesquisa;
- Viabilizar e incentivar a articulação intersetorial pelos profissionais da linha de frente, por meio de fluxos de encaminhamento definidos e repasse de informações sobre os serviços de emergência;
- Construção de políticas de suporte emocional e psicológico para os profissionais da ponta – por exemplo, disponibilizando os psicólogos da saúde para fazerem acompanhamento destes profissionais.
E na comunicação:
- Organização oficial e disseminação de informações sobre novos fluxos de trabalho, procedimentos, práticas de proteção, entre outros, frente à crise;
- Formação e treinamento adequados para que os profissionais estejam mais preparados para enfrentar a crise, utilizando tecnologias simples, como vídeos com transmissão online, infográficos ou outros materiais de comunicação simples e assertiva que chegue na ponta rapidamente;
- Construção de rede de comunicação entre a secretaria de saúde e profissionais (como rede de WhatsApp) para tirar dúvidas, fazer comunicação rápida e repassar informações oficiais;
- Distribuição de material informativo oficial para profissionais repassarem para população e combater as fake news;
- Realização de campanhas de valorização dos profissionais da saúde para sensibilizar a população sobre sua importância e demonstrar o suporte que possuem por parte dos governos.
Essas orientações deixam evidente que comunicação e marketing são uma importante ferramenta para qualquer gestor, especialmente para enfrentar crises.
Por Gilmara Espino, sócia-diretora da GPeS | Health Branding and Business
Sobre o autor:
Gilmara Espino é administradora com MBA e Mestrado em Gestão em Saúde pela FGV. Sócia e diretora na GPeS Health Branding and Business, atua como consultora de comunicação e marketing para projetos de saúde. Foi publisher da revista Melhores Práticas em Qualidade e Gestão em Saúde.
https://www.linkedin.com/in/gilmaraespino/
[1] NÚCLEO DE ESTUDOS DA BUROCRACIA (São Paulo). Eaesp (org.). A pandemia de Covid-19 e os profissionais de saúde pública no Brasil. São Paulo: Fgv, 2020. 16 p.